Você sabia que as mulheres brasileiras já voam há quase um século? Em 1906, Santos Dumont colocava o Brasil no centro da aviação mundial, como pioneiro em levantar voo em um avião. Menos de duas décadas depois, a primeira brasileira conquistou a licença para pilotar em terras tupiniquins!
Ué, quem é essa? É Thereza de Marzo, uma descendente de italianos que, aos 19 anos, peitou a família para fazer história, ganhando os céus para as mulheres brasileiras em 1922.
Thereza nasceu em São Paulo, no início do século passado. Era filha de imigrantes italianos e, já aos 17 anos, decidiu tornar-se piloto, assim como seus irmãos.
Só que naquela época era inaceitável que uma mulher se dedicasse a outra tarefa que não fosse casamento e filhos. Seu pai foi terminantemente contra! Sem o auxílio financeiro da família, ela precisou rifar uma vitrola para levantar fundos para as aulas de voo (que custavam uma fortuna!).
Na escola de aviação, a mesma que os irmãos dela frequentavam, acharam esquisita a presença da moça, mas permitiram. Foi um instrutor de voo alemão, Fritz Roeler, veterano da primeira guerra mundial, quem preparou Thereza para sua estreia solo, em março de 1922.
Ela recebeu o brevê (diploma para pilotar avião) de nº 76. Para conquistá-lo, ela foi submetida a um exame no qual se saiu muito bem, apesar de ter operado numa pista bastante pequena, impressionando a todos que assistiram sua performance.
No centenário da independência do Brasil, Thereza chegou a participar de uma rede aérea comemorativa entre São Paulo e Santos. Ela também começou a realizar as “Tardes de Aviação”, quando voava com passageiros, e ainda montou um hangar com o seu nome, para fundar a Escola de Aviação Ypiranga.
Mas infelizmente às vezes o que é bom dura pouco. Thereza se apaixonou pelo seu instrutor de voo, Fritz, e acabou caindo na armadilha do patriarcado! Depois de casada, o marido desestimulou a carreira da esposa, afinal “um aviador na família já bastava!” (e era ele, lógico!). Desde o casamento, em 1926, ela não voou mais.
A história de Thereza na aviação foi breve, mas marcante. Ela abriu os céus para que outras depois dela pudessem voar também, e, inclusive, fossem mais longe do que ela.
Anésia Pinheiro Machado, por exemplo, que tirou o brevê nº 77 (dias depois de Thereza!) conquistou o título de decana mundial da aviação feminina nos anos 1950. E Ada Rogato, a terceira “brevetada” no Brasil, nos anos 1940, tornou-se a primeira mulher paraquedista do mundo! E desbravou sozinha os Andes, a selva amazônica e a terra do fogo, na Patagônia.
Lá se vai quase um século desde a inauguração de Thereza, e a disparidade nos céus brasileiros ainda é grande. Atualmente, há menos de 800 mulheres com licença de voo ativas no Brasil, frente a mais de 26 mil homens.
Bora voar, mulherada!
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