Ela é conhecida como “grande dama do cinema e da dramaturgia”. Mas prefere se ver como uma operária da arte. Esse ano, ela completou 92 anos, de uma história que se confunde com a própria história da televisão no Brasil. Ah, e ela também concorreu a um Oscar e ganhou um Emmy, viu? Ué, quem é essa? É Fernanda Montenegro, uma das maiores estrelas nacionais, que já brilhou em centenas de peças, e em dezenas de filmes e novelas! 

1930 – Da infância suburbana às radionovelas

  • A Fernanda Montenegro que conhecemos foi batizada, na verdade, como Arlette Pinheiro da Silva. Descendente de imigrantes italianos, mais tarde instalados no subúrbio do Rio, ela era filha de pai marceneiro e mãe dona de casa.
  • Apesar de ser de família humilde, Arlette frequentou boas escolas públicas, e, em casa, conhecida pela voz marcante, era sempre eleita para declamar poemas para tias, irmãs e primas. Nos palcos da igreja do bairro, estreou em suas primeiras performances.
  • Ainda na escola, ela entrou para um curso de secretariado (afinal, esse era o voo mais alto que mulheres sonhavam alçar naquela época), onde aprendeu inglês, francês e datilografia. Aos 15 anos, ouviu uma chamada da Rádio MEC convidando estudantes a participarem do Teatro Mocidade. E lá se foi Arlette! Ela conta que já sabia naquela época que buscava ali um ofício para se entregar de corpo e alma.
  •  Passou no teste e começou como locutora da programação cultural. Ficou 10 anos na rádio, como pesquisadora, apresentadora e rádio-atriz! Foi aí que adotou o nome artístico: Fernanda Montenegro! (segundo ela, Arlette era muito comum, então escolheu um nome único e pomposo).

1950 – O surgimento da televisão 

  • No final de 1950, Chateaubriand trouxe a primeira emissora comercial para o Brasil, a TV Tupi. No ano seguinte, Fernanda Montenegro, de 22 anos, foi a primeira atriz contratada pela TV Tupi – Rio! Ela fazia “tele teatro”, encenando toda semana um clássico da dramaturgia diferente.  
  • No teatro mesmo, Fernanda só foi estrear em 1952. Dizem que a montagem foi um fracasso, mas ela ganhou o prêmio de revelação! Nessa ocasião, dividiu o palco com o seu parceiro de profissão e de vida, Fernando Torres, com quem casou naquele mesmo ano. 
  • Os Fernandos se conheceram nos arredores da rádio MEC, em um grupo de teatro da UFRJ, onde Fernando, rapaz de família tradicional, trocou a medicina pelas artes. Pois o casal de artistas vivia na pindaíba. Para o casamento, Fernanda, sem dinheiro para comprar o vestido, teve que pedir emprestado de uma amiga.
  •  No final dos anos 1950, ela e o marido apostaram todas as fichas em criar um grupo de teatro com alguns amigos: a Companhia dos Sete, que foi um sucesso, e funcionou de 59 a 65.
  • Foi por essa época, depois de um tratamento de fertilização, que Fernanda realizou o sonho de ser mãe: Cláudio nasceu em 1962, e Fernanda, em 1965. O nome da filha foi escolhido pelo pai, que brincava que a família precisava de uma Fernanda “de verdade”. Os dois rebentos seguiram a vida nos palcos, ele diretor, ela, atriz.

1970 – dramaturgia e ditadura

  • Nos anos 1970, a atriz afastou-se da TV por quase nove anos, e focou no teatro e no cinema. Mas não foi um período fácil para a dramaturgia no Brasil. 
  • Em plena ditadura, as peças eram frequentemente censuradas: trechos cortados, falas substituídas (palavrão não podia) e shows cancelados. No caso de cancelamento, tudo que podia sair jornal era uma notinha: “Espetáculo suspenso, sem data para ocorrer”.
  • No final dos anos 1970, Fernanda e o marido chegaram a receber ameaças durante uma turnê de uma peça. Telefonemas diziam: Fernanda levará um tiro na testa, em cena. Mas eles seguiram com o show. A segurança do teatro foi reforçada, espectadores eram revistados, as luzes da plateia ficavam acesas. Foi nessa época que, hospedados na casa de um amigo, uma bala estilhaçou o vidro da janela do quarto que dormiam. Período de medo!
  • Nos anos 1980, ao passo da lenta abertura militar, Fernanda retornou de vez para a televisão. Estreou numa telenovela da Globo em 1981, convidada por Manoel Carlos. Dali em diante, viveria dezenas de personagens globais!

Anos 1980 – democratização e Oscar

  • Na política, Fernanda foi ativa na campanha das Diretas Já. E, com a redemocratização, a atriz chegou a ser chamada para ministra da Cultura tanto no governo Sarney como no Itamar Franco. Apesar do forte apoio da classe artística, preferiu continuar nos palcos. Seguiu como oposição vocal ao desmonte do Ministério da Cultura da época de Collor (mal sabia ela o que viria por aí!).
  • Muito mais do que na política, foi na telona do cinema que Fernanda Montenegro marcou seu nome na história nacional. Em 1999, foi a primeira brasileira – e até então única – a concorrer ao Oscar de melhor atriz, pela atuação em “Central do Brasil”, de Walter Salles (já viu?). 
  • Quem levou o troféu naquele ano foi Gwyneth Paltrow, mas a nomeação à estatueta foi só mais um reconhecimento no currículo de Fernanda, que coleciona prêmios e medalhas. Em 1999, inclusive, ela foi condecorada por FHC com a Ordem Nacional do Mérito Grã-Cruz (se estivéssemos na Inglaterra, ela seria tipo um Sir!).
  • Em 2013, Fernanda Montenegro foi a primeira atriz latinoamericana a ganhar um Emmy, o maior prêmio da TV americana, pelo papel em “Doce de Mãe”, da Globo. E  ela não pára. Na pandemia, a senhorinha de mais de 90 anos diz que nunca trabalhou tanto! Vida (ainda mais) longa e próspera à nossa gigante.

#Elenao 

  • Fernanda Montenegro tem mais de 90 anos, mas é muito mais “prafrentex” do que muitos jovens que você conhece! Ela é a favor da descriminalização do aborto, da legalização das drogas e da criminalização da homofobia.
  • Sobre o governo atual, ela desabafa: “Eu nunca vi, mesmo no período militar, um momento em que a zona artística tenha tão pouco prestígio quando agora. Mas nós temos criatividade e não vamos ficar no meio do caminho. É só uma questão de tempo”.
  • “Antes, a cultura das artes era dada como “inútil”, o “imaginário criativo” era perda de tempo diante de “tanta carência do país”. Agora a arte se tornou “pecaminosa […]”
  • Mas, como sábia anciã, não deixa de engatar: “é um ciclo que vai passar, e não estou assustada. É só um problema de paciência”.

Esse texto é  da Pitaya, a primeira assinatura de calcinhas e sutiãs.

Mais do que uma assinatura, uma comunidade de mulheres empoderadas.

Afinal mulheres modernas merecem ser cuidadas, e bem estar começa na intimidade.

Ficou curiosa? Confere como funciona aqui e se tiver qualquer dúvida fale com a gente por aqui

  • fernanda montenegro biografia

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