Olá, Pitayas queridas! Junho foi um mês intenso para a fundamental reflexão sobre desigualdade racial. Pensando nisso, trouxemos como personagem do mês uma mulher negra que foi um marco na história do Brasil.
Ué, quem é essa? É Antonieta de Barros, também conhecida como Maria da Ilha, uma educadora, escritora, oradora e política. Entrou para (alguns) livros de história como a primeira mulher negra eleita no país, lá em 1934.
Antonieta de Barros, nasceu em 1901, na ilha da magia, Florianópolis, Santa Catarina. Naquela época, no entanto, a ilha não era tão mágica para uma filha de escravizados libertos. Órfã de pai desde muito cedo, Antonieta foi criada pela mãe, que trabalhava como doméstica na casa de uns políticos influentes na região.
Para ajudar no sustento, elas transformam a casa em que moravam em pensão para estudantes, e o ambiente foi propício para estimular Antonieta a aprender. Aos cinco anos ela foi alfabetizada, e aos sete entrou no ensino primário. Mas só aos 17 anos que retornou os estudos, já pensando em ensinar.
Antes mesmo de terminar o Magistério, ela criou, na sua casa, um centro de alfabetização, que levava seu nome, e que ela dirigiu até morrer. O centro era voltado à população carente, mas ficou tão reconhecido pela qualidade de ensino que famílias de elite entravam na fila para colocar seus filhos lá.
Antonieta também lecionava em escolas da região, dedicando-se ao magistério como vocação, sacerdócio e luta. Nunca casou ou teve filhos, viveu para seus ideais. Segundo ela, “o instrumento básico da vida é a instrução. Se educar é aprender a viver, é aprender a pensar. (…) Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios…”.
A educação foi sua maior paixão, mas ela não ficou “só” nisso. Além da carreira no magistério, ela se desenvolveu como escritora, oradora, ativista e política. Ela levantou umas bandeiras que, quase 100 anos depois, ainda precisam de muita defesa: educação para todos, valorização da cultura negra e emancipação feminina.
Ela foi uma das fundadoras da Liga do Magistério, uma entidade que lutava pelo direito das professoras, foi cronista em diversos jornais de Floripa, em que assumiu o pseudônimo “Maria da Ilha”, e foi se tornando uma figura politicamente conhecida. A carreira política foi apoiada por Nereu Ramos, um cara que mais tarde se tornaria presidente interino do Brasil, e que era da família de políticos em que a mãe da Antonieta trabalhava como doméstica.
Em 1930, com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, que trazia ares modernizadores, Antonieta entrou de vez para a política, aderindo ao Partido Liberal Catarinense. Em 1934, quando pela primeira vez mulheres puderam votar e ser votadas, ela entrou para a história do Brasil como a primeira mulher negra eleita: deputada estadual de Santa Catarina.
E querem saber quando, depois da Antonieta, um negro voltou a ocupar um dos assentos neste plenário? 2012. É, também engasgamos.
Durante seu mandato, Antonieta legislou pela educação, aprovou projetos em prol do magistério e promoveu a escola de educação profissional feminina. Mas tudo que é bom dura pouco, em em 1937 começou a ditadura de Vargas, fechando as assembleias legislativas. Com a democratização, Antonieta retornou para um novo mandato, de 1948 até 1951.
Aí em 1951 a oposição assumiu o poder e foi desfazendo várias mudanças progressistas do governo anterior. Antonieta acaba sendo exonerada do cargo de professora no colégio que lecionava, por motivos políticos. Ela criticava o novo governo, e um dos escritores racistas da épocas chegou a chamar seus textos de “intriga de senzala”.
Ela não tremeu: “Não houve intriga nem barata nem cara, as considerações foram ditadas pelo coração de uma negra brasileira que se orgulha de sê-lo, que nunca se pintou de outra cor, que nasceu trabalhou e viveu nesta terra. E que bem diz a mãe, a santa mãe, também negra, que a educou”.
Nessa época, sua situação financeira e condição de saúde se agravaram. Vítima de complicações da diabete, Antonieta morreu em 1952. Ela deixou um legado imenso que precisa ser conhecido!
“A alma feminina se tem deixado estagnar, por milhares de anos, numa inércia criminosa. Enclausurada por preconceitos odiosos, destinada a uma ignorância ímpar, resignando-se santamente, candidamente, ao deus Destino e a sua congênere Fatalidade, a Mulher tem sido, de verdade, a mais sacrificada metade do gênero humano”
Pingback: 5 mulheres negras que precisam estar na sua lista de referências! - Pitaya a 1ª assinatura de calcinhas e sutiãs