O tema deste mês da Pitaya, seu clube de assinatura de calcinhas preferido, é ela: a jovem mística.

Ninguém da roda se conhece direito. Dizem nome, idade, profissão, hobby e, claro, signo. Não sei se nos seus círculos essa imagem é comum, mas eu já vivi isso várias vezes. Particularmente não entendo muito de astrologia, então fico um pouco desnorteada naquelas constelações todas, sem saber exatamente o que adicionam às informações sobre literatura, advocacia ou jardinagem que acabei de receber sobre as pessoas à minha volta.

Se as estrelas realmente regem as nossas vidas ou não, isso nem me interessa tanto. O que me intriga é a dimensão do esoterismo na vida da mulher moderna. E digo isso do alto da minha experiência própria, da minha estatística de vizinhança: não tenho uma amiga que não tenha uma conta no Personare. Eu mesma, que me considero cética e regida pela razão, todo santo mês me pego esperando para saber o que a astróloga Susan Miller escreveu sobre o futuro dos escorpiões nos próximos trinta dias.

Para mim, o que pega nas narrativas sobre os astros é a sensação de que tem algo “maior” que controla meu destino. Que as minhas escolhas não afetam tanto assim meu futuro, já que, em alguma medida, as condições estão dadas pelos céus. Que alívio! Faço o esforço para detectar naquele horóscopo os ganchos para as minhas angústias particulares e encontro naquelas palavras, que precisam se encaixar na vida de 1 em cada 12 pessoas do planeta, previsões exatas.

Sim, é uma grande ilusão, mesmo os astrólogos profissionais concordam que os meandros da relação com os planetas são bem mais complexos do que isso. Mas a simplificação vulgar também funciona, porque, no fim, é um exercício de autoconhecimento. Na medida em que vamos amarrando nossas vidas às estrelas, vamos percorrendo nossas entranhas, detectando vontades, medos e inseguranças. E, assim, as previsões tornam-se profecias auto-realizáveis. Com ajuda dos astros ou não, quem constrói o caminho somos nós. 

É comum que quando precisamos tomar grandes decisões ou quando estamos em pânico com alguma questão, busquemos ferramentas que nos ajudem elaborar a nossa agência sobre as nossas próprias vidas. Muita gente procura nas cartas de tarô as respostas, que no fundo, estão do lado de dentro. Os arquétipos do baralho funcionam como um poema dadaísta, que cada um precisa interpretar à sua maneira, entender como ressoa e para onde quer levar.

No fim das contas, para mim, o misticismo é isso: uma ferramenta de exploração de subjetividades. É uma fuga da dureza racionalista que vivemos no dia a dia corrido das profissões e responsabilidades, que nos leva para um espaço mais lúdico e mais previsível. É aconchegante. E parece normal que esses esoterismo tendam a atrair mais mulheres do que homens, afinal, tendemos a explorar mais nossas sensibilidades, fomos socializadas assim.

Mas acho também que essa busca por predestinações está associada ao “novo” espaço que nós mulheres estamos tentando encontrar na sociedade – profissionais empoderadas, mães cuidadoras, tão livres e ainda tão oprimidas – que nos deixa um tanto perdidas. Então é isso. Se ler o horóscopo, tirar tarô, jogar búzios ou qualquer outra ferramenta qualquer ajuda você a se posicionar no mundo, por que não?

Claro que é sempre importante lembrar que a vida é nossa, e que não tem estrela, carta ou concha que impacte mais nosso futuro do que as nossas próprias escolhas. Mas isso a gente lembra todo dia, né? Então qualquer esoterismo que sirva para desatar nossos nós, que seja bem vindo. Afinal, No creo en las brujas, pero que las hay, las hay.

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