Ela foi a primeira mulher negra brasileira a conquistar o diploma de doutorado em física. Pesquisadora de semicondutores e sensores para uso militar, ela é professora há 26 anos no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). Ué, quem é essa? É a Sonia Guimarães, cientista engajada na luta feminista e antirracista. 

Ela nasceu no interior de São Paulo, filha de um tapeceiro e uma dona de casa, que não completaram nem o ensino básico. Mesmo assim, Sonia sempre foi incentivada pela família a estudar. Desde cedo, destacou-se na escola, com altas notas, especialmente nas exatas. 

Foi assim que ela decidiu que queria ser engenheira civil e começou, já no ensino médio, um técnico em edificações. No cursinho, pago com o suor do seu trabalho, ela se interessou por física e resolveu colocar o curso como segunda opção no vestibular. Mal sabia ela que ali estava seu destino.

Aprovada em física na Universidade Federal de São Carlos (uma das 5 meninas da turma de 50), ela iniciou a graduação pensando em tentar novamente o exame para engenharia no ano seguinte. Mas que nada! Quando teve aulas com um professor muito reconhecido na pesquisa sobre semicondutores (que era a grande novidade tecnológica nos anos 1970) seus olhos brilharam: era naquilo que queria trabalhar.

Não pensem que foi fácil seguir esse sonho. Sonia conta que nunca recebeu uma bolsa de iniciação científica na graduação porque acreditavam que ela “nunca faria nada com física”. Foi contrariando as expectativas que ela optou pela carreira acadêmica e saiu da licenciatura direto para o mestrado em física aplicada na USP.

Depois de uma especialização na Itália, ela ingressou no doutorado em materiais eletrônicos na Inglaterra, no Instituto de Ciência e Tecnologia de Manchester. Concluiu a pesquisa em 1989 e decidiu voltar para o Brasil (sentiu falta do calor dos trópicos!). Foi por acaso, lendo uma pesquisa recente do Black Women of Brazil que ela descobriu o marco que a titulação dela representava: primeira mulher negra brasileira doutora.

Em 1993, ela foi aprovada no concurso para docente no célebre Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). Naquela época, mulheres não podiam entrar como estudantes na instituição militar, apenas como professoras. E Sonia foi a primeira a assumir este cargo. O trânsito na instituição altamente masculina, branca e hierarquizada, contudo, foi sempre um desafio. 

Poucos anos depois de entrar no ITA, ela foi afastada das salas de aula e transferida para um instituto de pesquisa. Além de enfrentar baixa aprovação dos alunos, alegavam que suas roupas chamavam muita atenção para o seu corpo (afff, sabe?). Longe do ensino, ela teve o salário reduzido e a carreira quase estagnada. Só em 2010 que voltou a dar aulas no Departamento de Eletrônica. 

Fora da universidade, Sonia se envolve em diversos projetos sociais. Ela participa de ONGs (inclusive é voluntária dando aulas de inglês para alunos de periferia), é mantenedora da Universidade Zumbi dos Palmares e compõe diversos conselhos pela diversidade nas ciências. 

Aos 63 anos, ela já estaria pronta para aposentar-se, mas decidiu adiar esse plano para poder conhecer as novas turmas do ITA que, desde 2019, garante cotas para a entrada de alunas e alunos negros! Que Sonia sirva de exemplo para muitas meninas negras, e que os caminhos abertos por ela sejam trilhados por muitas!

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