Ilustração da @elingodois
Se você já foi para São Paulo, ou já viu fotos dos principais cartões postais da cidade, certamente conhece a obra prima da nossa homenageada do mês. Sabe o Museu de São Paulo (MASP), aquele prédio enorme que parece flutuar na Avenida Paulista, sobre hastes vermelhas? Pois então, foi projetado por uma mulher!
Ué, quem é essa? É Lina Bo Bardi, arquiteta e autora de de edifícios icônicos! Uma italiana que adotou o Brasil como pátria, e que fundiu o modernismo popular com a cultura brasileira em projetos vanguardistas reconhecidos no mundo todo.
Lina nasceu na Itália, em 1914. Ela se formou em arquitetura em 1940, na Universidade de Roma, uma instituição historicista, que privilegiava uma tendência mais clássica, bem quista pelo fascismo. Essa, contudo, não era nada a onda de Lina! Por isso, logo depois de formada, ela se mudou para Milão, onde começou a ter uma atuação política ativa: aderiu à resistência à ocupação alemã durante a Segunda Guerra, e também entrou para o Partido Comunista Italiano.
Depois da Guerra, aos 30 anos de idade, Lina se casou com o crítico de arte Pietro Maria Bardi, com quem deixou a Itália para construir uma nova vida no Brasil. Pietro viu na América do Sul um novo mercado de arte, já que a região se industrializava e era residência de muitos imigrantes italianos enriquecidos. A Europa, arrasada pela 2ª Guerra Mundial, já não era o melhor lugar para se vender quadros.
No Brasil, Lina mergulhou nas nossas diversas culturas, criando o ambiente ideal para a criação de sua linguagem única e radical. Na nova pátria, ela ampliou o conceito e alcance de suas idéias modernistas, e em 1948 já criou um estúdio com a proposta de produzir móveis de madeira com elementos brasileiros no acabamento.
Em 1950, ela criou a revista Habitat, e se inseriu efetivamente na cena arquitetônica brasileira. O nome da revista diz muito sobre seu sentimento em relação ao Brasil: seu lar. Em 1951, ela se naturalizou brasileira, na mesma época em que começou a projetar sua residência, a ˜Casa de Vidro”, como seria apelidada. A casa foi a sua primeira obra marcante, que logo se tornou um ícone da arquitetura modernista paulista (olha esse vídeo, a casa é linda!).
O próximo salto na carreira de Lina seria, sem dúvida, o convite para projetar a nova sede do MASP, em 1957, na Avenida Paulista. O projeto ousado tinha a missão de criar um espaço único, um cartão postal da cidade. E com Lina foi tiro e queda! O MASP é um dos principais museus da América Latina, e chama atenção de quem passa. O famoso vão livre é um dos maiores marcos da cidade de São Paulo.
Em seguida, Lina foi convidada para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia, e se mudou para Salvador. Lá, aproximou-se da comunidade de artistas vanguardistas da época, entre eles o cineasta Glauber Rocha e os tropicalistas Caetano e Gil. A ida ao nordeste foi um mergulho na cultura popular brasileira.
Lina conheceu o que chamou de “civilização da sobrevivência”, observando como os sertanejos, que viviam na extrema pobreza, eram capazes de criar soluções inventivas e transformar materiais que iriam para o lixo em objetos de uso cotidiano. A influência da cultura nordestina se fez presente em sua obra desde então, por meio da preocupação com a simplicidade e inclusão.
Após o golpe militar, em 1964, Lina voltou para São Paulo, onde projetou mais um grande marco, o SESC Pompeia (outro que vale um google!). Esse centro de cultura e lazer serviu de berço para a efervescente cena punk paulista e outras manifestações artísticas da época. Em 2016, o jornal The Guardian elegeu o projeto como a 6º principal edificação em concreto do mundo!
(
SESC Pompeia)
Lina faleceu em 1992, aos 77 anos, deixando um legado abrangente e interdisciplinar, que extrapola os campos da arquitetura e do urbanismo. Essa italiana de alma brasileira veio para misturar a vanguarda estética europeia com a nossa tradição popular, e foi certeira! Niemeyer foi incrível, mas quando pensar em grandes arquitetos brasileiros, não esquece da Lina, hein?!
“Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi esse lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, é minha ‘Pátria de Escolha’, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri, ao Triângulo Mineiro, às cidades do Interior e as da Fronteira.” Lina Bo Bardi
Ainda não faz parte do clube? Assine agora!