Tradutora, professora, antropóloga, filósofa, feminista e militante antirracista. Ah, e estudiosa de psicanálise e antropologia. Ué, quem é essa? É Lélia Gonzalez, uma intelectual paradigmática do feminismo negro no Brasil!
Sua mãe era indígena, analfabeta, e seu pai, um homem negro e operário. A mãe, que casou aos 13 anos, engravidou dezoito(!) vezes (mas cinco bebês morreram). Lélia foi a décima sétima, nasceu em Belo Horizonte, lá em 1935.
Na família, ninguém passava da escola primária, todos tinham que trabalhar para ajudar no sustento. A sorte foi que Lélia, caçula, nasceu em um período de “vacas gordas”. Quando um de seus irmãos foi convidado para jogar no Flamengo, a família toda se mudou para o Rio, e Lélia pôde se dedicar aos estudos.
Lélia estudou no Colégio Pedro II, conhecido pelo ensino rigoroso, e entrou na universidade! Ela se formou em História e Geografia, mais tarde também em Filosofia, e passou a lecionar – mas ainda sem pensar na questão racial. De acordo com ela, havia sido “embranquecida” e rejeitava sua condição de negra.
Foi na faculdade que Lélia se apaixonou por Luiz Carlos Gonzalez, estudante de psicologia, branco. O namoro era aceito pela família do rapaz, mas, quando os jovens se casaram, escondidos, os pais dele foram terminantemente contra.
Foi, segundo Lélia, o gatilho “daquilo que estava reprimido”, e ela teve contato direto com a dura realidade do racismo.
Quando os conflitos se acentuaram, Luiz Carlos rompeu relações com a família. Mas o desgaste foi excruciante. Ele se suicidou no ano seguinte ao casamento, e Lélia manteve o nome Gonzalez para o resto da vida, em homenagem ao marido. A partir desse trauma, Lélia despertou para o racismo, sobretudo na perspectiva da mulher negra.
Para buscar a cura e se reconciliar com suas origens, ela debruçou-se sobre estudos tanto da psicanálise lacaniana como do candomblé — religião de matriz africana. Tentando encontrar a resposta para sua existência, ela se aproximou do povo, e conectou a teoria com a prática.
Preocupada com o protagonismo negro silenciado, a mobilização política passou a ocupar grande espaço em sua vida, principalmente depois de cofundar o Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978. Na luta contra a ditadura, Lélia tornou-se uma intelectual de alto relevo, e participou de inúmeros encontros feministas ao redor do mundo, sobretudo na Década da Mulher da ONU (1976-1985).
Na redemocratização, ela participou da formação dos partidos de esquerda, atuou nas discussões sobre a Constituição de 1988 e integrou o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Além do engajamento político, ela foi professora universitária, inclusive nomeada diretora do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio um mês antes de falecer, em 1994, vítima de um infarto, aos 59 anos.
A Ângela Davis, lenda viva do feminismo negro, resumiu: “por que vocês precisam buscar uma referência nos Estados Unidos? Eu aprendo mais com Lélia Gonzalez do que vocês comigo”. Modéstia de Ângela à parte, Lélia Gonzalez realmente foi pioneira das discussões mundiais sobre gênero, classe e raça e tem muito para ensinar. Se joguem!
“Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles.” Lélia Gonzalez
Esse texto é da Pitaya, a primeira assinatura de calcinhas e sutiãs.
Mais do que uma assinatura, uma comunidade de mulheres empoderadas.
Afinal mulheres modernas merecem ser cuidadas, e bem estar começa na intimidade.
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