Ué, quem é essa? 

Essa moça é a baiana Maria Quitéria de Jesus, também conhecida como Joana d’Arc brasileira, nossa heroína nas lutas de independência!

Ela nasceu no interior da Bahia, e perdeu a mãe quando tinha nove anos. A partir daí, assumiu o comando da casa e o cuidado de seus irmãos mais novos. Ela aprendeu a montar, a caçar e a manejar armas de fogo. Em 1822, quando começaram as lutas de independência do Brasil contra os portugueses, Maria Quitéria já estava com 30 anos, pronta para o combate (#beijinhonoombro). O Exército de Libertação, que saiu arregimentando voluntários para lutar, visitou a fazenda em que ela morava, só que o pai disse: “não tenho filhos com idade para o combate”.

Meio que tinha, né? Quitéria ouviu tudo, e pediu para se alistar,  mas o pai proibiu. Ela nem quis saber, saiu da fazenda e foi pedir ajuda à sua irmã Teresa, que lhe cortou os cabelos e lhe emprestou a farda do marido, Medeiros. Foi assim que Maria Quitéria foi recebida no batalhão: como o soldado Medeiros. O disfarce não durou muito, porque o pai procurava por ela, e não foi difícil imaginar onde estaria. Só que, àquela altura, a moça já tinha demonstrado sua facilidade com as armas, e os oficiais sabiam que não era uma boa ideia perdê-la.

Ela assumiu-se como Maria Quitéria e costurou um saiote à sua farda. Destacou-se pelo seu entusiasmo e bravura. Sua história influenciou outras mulheres, e ela acabou sendo a líder de um grupo feminino nos combates! Quando o Exército de Libertação venceu, em 1823, Maria Quitéria foi aclamada pela população. Em seguida, ela foi convidada a ir para o Rio de Janeiro, para receber das mãos do imperador uma condecoração. E recebeu um salário vitalício! 

Ela ainda pediu um favor pessoal ao imperador: que ele escrevesse uma carta ao seu pai, pedindo perdão. E funcionou. O pai perdoou-a e Maria Quitéria voltou para o interior da Bahia, onde passou a viver no anonimato. Casou-se, teve uma filha e faleceu aos 61 anos. Seu pioneirismo marcou a história do Brasil, e até hoje ela é lembrada como uma grande guerreira! 

E hoje, têm mulheres nas Forças Armadas brasileiras?

Tem sim. Se há quase 200 anos Maria Quitéria foi uma raríssima exceção, atualmente, as Forças Armadas brasileiras contam com 28 mil mulheres. Apesar de ser um número expressivo, ainda representa apenas 8% do efetivo total. 

Muitas mulheres certamente apresentam todos os atributos necessários para servir às forças, mas a carreira militar permanece muito fortemente atrelada ao papel social dos homens. Até hoje, a maioria dos cargos combatentes são vedados às mulheres! O cargo que Maria Quitéria ocupou? Nope! A versão com saiote não está disponível. 

A marinha foi a primeira força em que mulheres foram permitidas, em 1980, mas somente no corpo auxiliar. Em 2012, uma integrante dessa turma tornou-se a primeira brasileira oficial-general. Aos poucos (bem poucos) os espaços foram aumentando. Em 2014, houve o primeiro concurso para mulheres aspirantes da Escola Naval. Havia 12 vagas e, pasmem, 3 mil mulheres concorreram! Ou seja, demanda claramente não falta.

A força aérea abriu vagas para mulheres logo depois da marinha, em 1982, e hoje é a que mais tem mulheres em seus quadros. Elas já são pilotos de todos os tipos de aeronave: desde helicópteros até caças. Em 2016, pela primeira vez uma mulher comandou o avião presidencial brasileiro!

O Exército é a maior força, e a mais lenta a se modernizar. Mulheres só foram aceitas em 1992, apenas em postos administrativos, e, mais tarde, em postos de saúde. Em 2017 quase 8 mil meninas participaram do concurso para a a escola preparatória de cadetes, que ofereceu pela primeira vez 40 vagas para mulheres (havia 400 para homens). Em 2019, elas formaram a primeira turma de cadetes com presença feminina na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). 

As transformações acontecem devagarinho, porque mudar uma cultura não é fácil não. Maria Quitéria, dois séculos atrás, plantava uma sementinha que mostra seus primeiros primeiros frutos: a liberdade das mulheres participarem de uma estrutura tão importante como a de defesa nacional! Mulheres também deveriam poder defender sua pátria, se elas quiserem! 

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